O visitante noturno,livro de 2000, é uma coletânea de contos de
Carlos Ribeiro, jornalista e escritor baiano. Mesclando escrita muito elegante
com ambientações sinistras, misteriosas, o autor cria histórias bem curtas e
com imagens que se instalam na imaginação. Se você não conhece o gênero dos
contos pequenos, ou Shot Historys para ser mais técnico, um bom início é Carlos
Ribeiro.
Aqui, vamos dividir a sinopse do livro por meio de alguns dos contos em
específico. Contos que expressam bem "qual é a do"livro, já que as linhas gerais já foram ditas na pequena introdução acima.
O visitante
noturno
Explorando a ambientação psicológica em todos os momentos da
trama, Carlos Ribeiro conta sobre quando uma pessoa recebe visita de madrugada,
em um horário completamente sem nexo, sem que suspeite de quem possa ser.
Contra todas as possibilidades e ao mesmo tempo em conformidade com elas, o
protagonista pensa se uma visita nessa hora faz ou não algum sentido, e se,
também, faz algum sentido atendê-la.
A visita do
diabo
Mais um conto numa pegada parecida com o que falei acima, a visita
do diabo desloca o enfoque de um apartamento numa cidade grande para ir pro
mundo rural, com forte regionalismo na linguagem e expressando a fé do
sertanejo perante uma situação conflituosa. Quando o "diabo" bate à
porta o tempo inteiro sem parar, toda a família está dormindo, exceto o
patriarca, que se perde na afliçâo e numa série de orações.
Os ultimos
passos de Isaac
Uma cidadezinha bem afastada que é atingida pela guerra. Isaac,
naturalmente, é alvo de transtornos materiais e psicológicos. Já no pós-guerra,
dá-se o início de uma rápida industrialização que fascina a todos... Não a
Isaac - ele percebe a ferocidade do processo de modernização, ganhando
consciência de que a violência não teve fim com os termos finais da guerra,
apenas foi substituída por outro tipo de dominação.
Tardes claras
dos anos 60
Delírios sucedem-se pelas linhas fluídas deste pequeno conto em
que não se sabe bem quem é o protagonista. Sentimentos aleatórios que se
assemelham a momentos infantis na casa dos pais se alternam com cenas
violentas, em que penso que a personagem é na verdade a morte. De qualquer
modo, a interpretação é bem subjetiva.
Vozes do
tempo
Este foi o meu preferido. Nele, o/a protagonista conta um sonho muito
marcante, segundo o qual ele morou durante longos anos numa casa imensa, uma
enorme construção com labirintos sem fins, um casarão em que os limites são
desconhecidos. Lá ele não errava, não passava vergonha nem tinha alegrias, ou
seja, não vivia. Deste sonho ele volta pra realidade e tenta interpretar sua
própria experiência conforme as lições que aprendeu. Não posso contar mais do
que isso.
O que ficou
do que passou
Já percebeu o tanto de escritor bom que é ou começou como
jornalista? Bom, a gente acha muita coisa ruim vinda de jornais por aí, mas, no
essencial, as matérias jornalísticas boas são como histórias: elas contam — com
início, meio e fim — histórias cujo material é a experiência humana. Os e as
jornalistas que o fazem com qualidade e dedicação abrem caminho para a carreira
literária e nos presenteiam com verdadeiras obras de arte, tanto na comunicação
midiática quanto na literária.
O baiano Carlos Ribeiro não é nenhum iniciante na literatura, mas
já fica de indicação para você que quer novas descobertas literárias
brasileiras.
Matheus: uma alegria descobrir aqui seus comentários sobre um livro que me é caro e que já está há muitos anos fora de catálogo. Um grande abraço e meus votos de que continue divulgando o que há de bom em nossa literatura.
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