Escritor incessante de horror há décadas, lançando frequentemente
mais de dois títulos por ano, Stephen King continua demonstrando ser capaz de
se reinventar - apesar de já ter falhado grotescamente, no meio do percurso, em
função do apelo comercial. Em Achados e Perdidos, segundo livro da trilogia
Bill Hodges, King se desafia a escrever um romance fortemente histórico
mantendo as características macabras (um pouco menos acentuadas do que em
outros livros, mas ainda bem presentes). Os acontecimentos medonhos são obras
de pessoas, não de entidades sobrenaturais, o que dá um toque realista e mostra
que o ser humano é que é realmente assustador.
Confesso que peguei o livro atraído pelas sinopse e capa, num
passeio em uma livraria, por isso comecei pelo segundo título da série. Mas não
me arrependo. Dá para se viciar na história mesmo sem saber que ela faz parte
de algo maior.
Sinopse
O romance começa mesclando cenas de 1978, com Billy, e outras a
partir da crise de 2008, que vitima economicamente a família de Peter, um
garoto que se sente diretamente responsável pelos rumos das pessoas do seu
sangue..
O escritor Rothstein, controverso entre críticos e popular entre
leitores, criou um protagonista de sua principal série de livros que marcou uma
geração inteira de machões pelos EUA. Jimmy Gold, jovem doidão e futuro pai em
busca do sonho americano, legou uma lendária frase motivacional: "Essa
merda não quer dizer merda nenhuma".
O resultado de tanto carisma foi que um leitor, digamos assim,
conturbado e escroto, mudou completamente a sua vida depois da leitura do
livro. Billy se decepciona quando Jimmy Gold muda seu rumo para a busca do Ouro
Americano. Contrafeito, ele vai atrás de Rothstein e o ASSASSINA - sim, isso
mesmo - por causa do desapontamento.
Como Rothstein passou os últimos dezenove anos recluso, sem nada
publicar e sem aparecer de nenhuma forma para o público, tudo o que ele
escrevia estava manuscrito em cadernos. Além disso, guardava dinheiro. Bastante
dinheiro. Billy pega mais de vinte mil dólares e os cadernos Moleskines do seu
herói assassinado, guarda num baú e o enterra. O grande impasse que surge
depois é que ele pegou prisão perpétua; sobre o crime, posso dizer que não foi
o mencionado acima.
***
Mais de trinta anos depois, por um acaso, Peter - o menino que
também por coincidência reside na mesma casa em que vivia Billy - encontra o
baú no qual Billy enterrou toda aquelas joias do Rothstein. A grana que estava
lá poderia muito bem ser usada para retirar a família da lama. Só que o mais
valioso de tudo aquilo eram os manuscritos originais do que pareciam serem
continuações da saga de Jimmy Gold - valor não só do ponto de vista artístico;
o dinheiro que se podia ganhar com aquelas relíquias excediam os milhões.
A história ganha contornos definitivos quando Billy consegue
liberdade condicional por bom comportamento, saindo da prisão com enorme
vontade de reaver a relíquia que constitui o que fez de mais importante em sua
vida. O que Peter, por sua vez, fez com o baú legado por Billy?
O que ficou do que passou
Podemos ressaltar a forma hiper atrativa com a qual King conduz as
tramas, sempre alternando bem os momentos mais frenéticos com as quebras de
tensão. Capítulos curtos contribuem decisivamente para o desejo constante de continuar
lendo o livro sem parar nem para tomar água/ comer.
Para além disso, só posso dizer que o livro é realmente muito, mas
muito legal mesmo. É a primeira história de King que leio por completo, em
minha segunda tentativa. Já havia tentado ler Desespero e gostei muito, porém,
por algum motivo, sem atingir um ritmo de leitura fluído, não concluí. Stephen
King prova mais uma vez que ainda é capaz de encontrar histórias
complexas no fundo do seu prodigioso cérebro, daquelas que só ele tem o jeito
de contar.
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