Richard Morgan é um escritor e cineasta
estadunidense que se notabilizou especialmente por ser o criador de Carbono
Alterado, livro de 2002 que virou série da Netflix este ano e está em evidência
na ficção científica contemporânea. O que mais me impressiona é que tudo o que
vou dizer a seguir foi o seu primeiro romance publicado.
Sinopse
Carbono Alterado conta a história de um mercenário
alienígena (mas humano), com vários séculos de vida, que é contratado por um
ricaço para solucionar o mistério do seu próprio assassinato. É que, por mais
estranho que pareça, no século XXVI algumas pessoas já conseguem superar a
morte.
O meio para a "reencarnação" é um sofisticado
sistema que congela, em um cartucho, a consciência do indivíduo e a deixa
completamente intacta, mesmo quando a pessoa está sem corpo para
materializar-se. Nem todas as pessoas conseguem rapidez ou mesmo acesso ao
processo, aliás, o procedimento em si é restrito a indivíduos privilegiados ou
a trabalhadores (de profissões legais ou não) que exercem atividades violentas
e que portanto tem mais chances de morrer.
Neste contexto, o magnata é assassinado por alguém que
provavelmente não sabia que ele tinha, integralmente a seu dispor, clones
perfeitamente conservados, além do costumeiro cartucho de consciência. O
empresário fica furioso e disposto a descobrir o seu assassino, por isso
contrata o sr. Kovacs - um investigador-mercenário que estava congelado em seu
planeta de origem, o Mundo de Harlan - e lhe dá uma grande recompensa para
averiguar o caso, que vai se revelar muito mais profundo que apenas o que lhe
fora explicado.
A história do universo de Carbono Alterado
Toda a história se passa num futuro bem distante.
Mas o fato "antigo" mais marcante historicamente para a Terra é o
período das Grandes Colonizações. No século XXIII, naves foram tripuladas por
colonizadores terrestres em busca do domínio de outros planetas. Assim que
Marte e o Mundo de Harlam se tornaram habitáveis para os humanos.
Foi aí que muitos outros lugares foram alcançados,
e atingidos, pela humanidade – a diferença na povoação humana dos vários mundos
era na diversidade de etnias. Por exemplo, o Mundo de Harlan, planeta do
protagonista Takeshi Kovacs, recebeu colonizadores asiáticos e escandinavos - isso
explica a mistura idiomática no nome.
A terra parece ser o lar da mais alta tecnologia.
Dá para perceber isso observando a forma com a qual o Kovacs se impressiona ao
ser atendido pela maquinaria utilizada em serviços relativamente simples e
humanos, como a venda de produtos ou a rede de hotelaria. No Mundo de Harlam -
planeta com que temos mais contato do que os outros justamente por, lembrando,
ser a terra de Kovacs -, por exemplo, os robôs são utilizados em poucos
serviços e o estágio tecnológico está próximo ao da época das grandes
civilizações, há pouco mais de duzentos anos: altíssimo automatismo e
desenvolvimento para os transportes, no entanto, em comparação com a Terra,
rústica no setor de serviços e da vida cotidiana.
Kovacs vai percebendo isso em meio a uma sociedade
que vive para consumir vorazmente, em todos os aspectos da vida, e que adapta a
evolução da sua tecnologia e dos seus costumes de vida para a sociedade de
mercado. É como se ele tivesse sido jogado em um mundo que potencializa
qualquer pequeno luxo que havia em sua terra de origem, e a selvageria
capitalista que encontra naquele local o impressionada a cada ato. A encarnação
mais perfeita do consumismo irrefreável que caracteriza a Terra é a família do
magnata contratante, extremamente rica e poderosa politicamente.
O que ficou do que passou
A
escrita de Richard Morgan me chamou muito a atenção por ter bastante precisão
na escolha das palavras e ao mesmo tempo algo de muito atual, que a deixa
bastante atraente. Porém, algumas descrições me pareceram confusas, talvez pela
imensa profusão de detalhes e um certo desfoque sobre o que é essencial à cena.
Isso deixa a experiência de leitura um pouco arrastada e embaralhada; a leitura
não avança com tanta fluidez nem em provocar empolgação nem no sentido da
compreensão.
Reconheço
que a história é muito complexa e talvez não haja outra saída senão escrever
detalhadamente cada cena, pois os desfechos, meio complicados, precisam ter uma
explicação bem embasada. O que fica de verdadeiramente interessante são algumas
cenas de ação (e até de sexo) muito, mas muito bem escritas mesmo, e uma crítica
muito legal à sociedade de consumo.
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