O velho safado, ou velho Buk, também
conhecido por aí como Bukowski, nascido na Alemanha e criado nos Estados
Unidos, foi um poeta, contista, romancista, faxineiro, carteiro, algumas
profissões só para começar a lista, que marcou época por seu estilo marginal e
tão forte que (1) não dá para ler sem que se faça uma caretinha um pouco
disfarçada, de canto, com os olhos arregalados e focados no chão, e que (2) faz
a gente ler escondido de todo mundo.
Apesar de ter cultivado o hábito de
escrita desde a adolescência, só conseguiu se profissionalizar bem velho, com
quase 60 anos. Quando jovem, seus trabalhos eram frequentemente recusados pelas
editoras e revistas. Aliás, começou com a literatura quando seu pai, também
Bukowski, um homem amargo, violento e autoritário, deu uma máquina de escrever
para ele – só que não aguentou o que leu depois, por isso, ao conhecer os escritos do filho, expulsou o garoto de casa.
Podemos começar a desbravar esses
contos por meio de Ao sul de lugar nenhum,
uma coletânea lançada em 1973 na qual se encontram os absurdos mais nojentos e
as qualidades mais marcantes do velho Buk.
Sinopse
de Ao Sul de lugar nenhum
Na maioria dos contos, o protagonista
é Henry Chinasky, o personagem mais conhecido do autor. Você também pode deixar
de chama-lo de personagem e trocar
para pseudônimo, porque, abertamente,
o estilo de Bukowsky é muito autobiográfico. Chinasky é Bukowsky, um escritor maldito, um pária, um velho alcóolatra e escroto
com cara achatada que se vê em situações ridículas e escreve ótimos contos,
que, complementados com algumas louças em restaurantes, conseguem garantir o
dinheiro da bebedeira e das apostas em corridas de cavalo.
Mas Bukowsky se deixa um pouco de lado
em alguns momentos, também decisivos para você compreender quem é o velho como
contista (não o conheço como poeta). Big Bart é o protagonista do conto Pare de olhar para as minhas tetas, senhor,
um homem do velho oeste que vive para matar índios e transar. Aqui a gente já
começa a perceber que a primeira parte do livro é MUITO PESADA. Estupro é um
tema recorrente, então, recomendo que, se não tiver estômago para isso, passe
para a segunda parte do livro, que inclusive é bem melhor do que a primeira.
Mas o livro serve, também, para
mostrar como Bukowsky escreve bem e de maneira envolvente. A síntese da segunda
parte do livro está no último conto, Confissões
de um homem suficientemente insano para viver, em que Chinasky está no auge
da decadência, é despedido de mais um quarto e parte para outro hotel para
retomar a farra, agora acompanhado de K., uma ex-showgirl. Além disso, quando Chinasky precisa se submeter a uma
cirurgia de hemorroidas, o escritor faz uma descrição descarnada do cotidiano
hospitalar. Vale muito à pena ler este conto.
O
que ficou do que passou
Em minha leitura, dividi o livro em
duas partes. A primeira parte do livro parece ter sido escrita trinta anos
antes da segunda. A escrita é tão simples, crua e forte como todo o restante da
obra, mas o estilo é outro, um pouco mais corrido e dentro de certo fluxo de
consciência; já os temas são nojentos,
para não dizer ilegíveis. Personagens
mulheres sem muito desenvolvimento (poucas exceções) que só gostam de homens
durões, chegando ao absurdo de gostarem de terem sido estupradas, decadentes
homens-cópias uns dos outros e cenas lamentáveis.
Apesar disso, o conto que apresenta
Chinasky (não me lembro qual o título), é muito bom mesmo. Traduzindo: se você
não quer ver um apanhado de nojeiras doentis e pervertidas, não leia a metade
inicial. Foi bem difícil para mim, mas, como finalmente tinha chegado a hora de
eu lidar com Bukowsky, resolvi encarar.
A segunda parte, porém, mostra um
Bukowsky com um estilo bacana de escrever os contos, separando-os por capítulos
numerados e bem concisos, transportando o minimalismo de suas frases para a
estrutura geral, em contos capitulados. E mais complexos, com histórias mais
bem ambientadas e desenvolvidas.
Apesar dos temas não terem relação de
causas uns com os outros, as histórias giram em torno da decadência de um
Chinasky que havia sido construído no começo e metade do livro. Aqui o livro é
bem melhor, porque Buk prefere criar e desenvolver personagens que fazem mais mal a si mesmos do que aos
outros. A velha ordem do escritor teuto-alemão, porém, continua a mesma:
protagonistas homens, boêmios, marginais.
Nos pontos altos, então, como
expliquei acima, o livro é realmente surpreendente. Para quem, assim como eu,
só conhecia alguns trechos desconexos de poesias obscuras do autor, serve muito
bem como uma mostra do que ele pode nos deixar de nojo e de admiração.
Aproveite com cuidados como os que citei e outros não citados, e boa leitura!
Com Bukowski é sempre assim: Um misto de Amor/ódio/Amor/e mais ódio. Tem coisas que ele escreveu que penso: Cara maluco e babaca. Mas outras coisas a gente diz: Putaquepariu. Esse cara sabia das coisas.
ResponderExcluirSempre digo para quem quer ler: Saiba separar as coisas e não leve tudo a ferro e fogo.
Sou fã do velho Buk e na minha opinião, ele tem muita coisa que podemos usar no dia a dia.