Houve um tempo em que o
universo carecia de um Guia definitivo para as viagens intergalácticas. Os
mochileiros que se arriscassem a viajar pelas vias expressas intergalácticas
viam-se obrigados a pegarem um manualzinho de viagens vagabundo, ou até a
viajarem ao léu. Douglas Adams, percebendo a carência e ignorância dos
mochileiros terrestres, divulgou para o nosso planeta, em 1978, o Guia mais
completo já existente, ao qual chamamos de Guia dos Mochileiros da Galáxia. O
problema principal é que apenas dois humanos podem ler o livro, já que foram os
únicos sobreviventes da demolição da terra. Mas isso já é outro assunto.
Bom, mas falando um
pouco mais sério, Douglas Adams se notabilizou por escrever roteiros para o
Monty Phyton’s, além de ter escrito até livros de não-ficção, na área de
biologia, sendo ele um ambientalista. A sua afeição à tecnologia é um dos
traços mais marcantes de inspiração para a criação de Guia dos Mochileiros das
Galáxias, titulação do primeiro livro e também da série completa. A
diversificação de interesses fez com que, nesta obra, o autor criasse
praticamente um novo vocabulário próprio, cheio de equipamentos com
terminologias próprias, sem falar das sátiras gramaticais, políticas, sociais e
econômicas.
Quando você, leitor/a,
estiver lendo páginas e páginas seguidas em que o único adjetivo que estiver
conseguindo resgatar à mente for "genialidade", nada menos do que
isso, se espante com essa informação: Adams tinha muita dificuldade em
escrever. As páginas escritas por ele só existem por muito esforço e agonia, de
modo que o autor, além de demorar relativamente um bom tempo entre um e outro
livro da série, sofria bastante com bloqueios criativos.
Sinopse
Atenção! Parece uma
revelação do enredo, mas não é: a terra foi demolida. Arthur Dent, protagonista
da história, estava em um dia particularmente tranqüilo quando a terra teve o
seu fim — o que certamente deve ter cortado e muito aquela brisa —, só
sobrevivendo porque um alienígena o ajudou, uma criatura que se disfarçava de
ator desempregado e tinha muita habilidade em conseguir caronas intergaláticas.
Por acaso, também um colaborador do Guia dos Mochileiros da Galáxias, uma
enciclopédia gigantesca sobre os detalhes maiores e os mais ínfimos do
universo.
Além da amizade desses
dois, conhecemos Zaphord Bebleebox, o presidente intergalático que nunca
conseguiu deixar de ser um mochileiro, ou ao menos não em seu coração; e
Trillian, uma humana que conheceu Zaphord seis meses antes da destruição da
terra.
A bordo da nave Coração
de Ouro, uma máquina com o esplendoroso Gerador de Improbabilidade Infinita —
algo que pode colocá-los em situações extremamente improváveis —, eles escapam
de perseguições incessantes e tentam encontrar um sentido para a existência. No primeiro livro, após escaparem da demolição
da terra, esses quatro iniciarão uma longa peleja contra os vogons, raça
responsável por terríveis torturas à base de sua poesia, a terceira pior do
universo. Os vogons são violentos por essência, e sempre procuram situações nas
quais possam descontar todo o ódio que guardam em si.
O
que ficou do que passou
Bom, a história em si
notabiliza-se por não se ater a fios lógicos muito trabalhados. Porque, pra
falar a verdade, se tudo se encaixasse perfeitamente, a obra não seria o que é.
Não é nesse livro que será possível encontrar o segredo roteirístico dos
clássicos. Mas a criatividade é elevada a níveis que talvez você não acreditava
serem possíveis... até o momento em que decidiu ler o Guia dos Mochileiros das
Galáxias.
A sátira é uma
característica constante nas tramas. Ela se encontra em variados momentos e em
diversos temas, principalmente em relação ao poder e ao que se chama de
"alta cultura". Zaphord é o personagem para o qual são direcionadas
as críticas relativas ao poder - o presidente não tem absolutamente nenhuma
obrigação em administrar; ele apenas desvia a atenção do poder -, já as poesias
ruins e pedantes dos vogons mostram o ridículo de algumas formas expressivas aristocráticas
e acadêmicas.
Resumindo: Douglas
Adams é simplesmente um dos escritores mais geniais que eu já li. É espantosa a
forma como ele consegue emplacar várias páginas de pura genialidade; várias
páginas que deixam incontrolável a vontade de ler pra todo mundo que estiver ao
lado. Está mais do que indicado a quem quer que seja. Meus irmãos já estão
lendo, meu pai vai ler e é provável que muitas outras pessoas que eu conheço
farão o mesmo. Não consegui ficar sem falar dele em qualquer das conversas que
tive nos últimos dias... E já passei para o segundo livro da série, o que não
era pra eu fazer tão cedo, porque é melhor ler devagar algo tão bom.
*Lembrando que este é
apenas o primeiro da série de cinco livros. Todos serão resenhados aqui no
Alfarrábios, é só aguardar.
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