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domingo, 27 de maio de 2018

Escaravelho de Ouro (Edgar Allan Poe)




Escaravelho de Ouro (Edgar Allan Poe)

Após uma experiência inigualável com O Corvo (mesmo que eu não seja leitor de poesia, este poema me enloqueceu. Que fodástico, meu deus!), e outras com livros de contos que foram lamentáveis, retomei a vontade e a teimosia para ler Edgar Allan Poe. Não pude aceitar o fato de não ter gostado ou me dedicado o suficiente para ter lido algo dele por inteiro, por isso fui à busca de um livro para dar outra chance. Minha escolha foi aleatória, confesso: estava no ônibus coletivo, abri o meu Kindle e li o primeiro que encontrei.

Para minha surpresa, foi incrível. Bom, certamente existe uma explicação para a antiga tentativa fracassar. Estava exausto. Fui à busca de histórias de mistério que fossem leves, fáceis de ler, pensando que em Poe eu as encontraria — me enganei, Poe nunca se propôs a escrever simples e curtas historietas de terror. Seus enredos são o que há de mais complexo, bem trabalhado e intrigante que eu já pude encontrar em seu gênero, como é o caso do livro Escaravelho de Ouro, tema desta resenha.

Sinopse

O livro contém doze contos. Desde o grande suspense e desfecho assustador (ou trágico) de A caixa oblonga, ou da psicodelia fantástica de Um conto das montanhas escabrosas, Poe demonstra toda a sua habilidade em construir enredos para lá de complexos, dignos de romances, e discorre prolixamente (muito, mas muito extensamente mesmo) sobre cada mistério contido nos enredos.

Um dos contos que mais me agradou é também um dos mais curtos. É primeiro do livro, intitulado Manuscrito encontrado numa garrafa, no qual Poe apresenta um diário de bordo de um náufrago que caiu em um navio assustador — sobretudo com uma tripulação sinistra — que navegava sempre em direção ao sul, mesmo estando se aproximando cada vez mais das fatais colisões, tempestades e do frio imenso das calotas polares.

Lembro-me agora de Morella, meu deus, que conto lindo! Outro conto em que Poe afasta um pouquinho (um pouquinho só) toda a sua prolixidade para construir uma obra com imagens muito singelas e extremamente profundas de dor, de arrependimento e sobretudo de amor. Aqui, Morella é o objeto de amor do protagonista; casaram-se e viveram juntos por muito tempo, mas o protagonista em certo ponto desenvolveu uma espécie de repulsa, e, mesmo a amando e estando próximo a ela, não consegue ter controle de tal aversão. O gatilho principal é o dia em que ela desenvolve uma doença letal.

É de se notar especialmente também o conto O sepultamento prematuro. É o conto mais agonizante, terrível e assustador. Os outros contos são mais de mistério, não há nada de muito assustador para quem lê com os olhos anacrônicos do século XXI ou XX, ou seja, para aqueles que leram King ou Joe Hill. N’O sepultamento prematuro, porém, Poe trata de sepultamentos de pessoas vivas. O autor-protagonista elenca vários casos diferentes de pessoas que tiveram a fatalidade de serem enterradas vivas.



Nenhum autor é incontestável. É possível pôr em contrapeso o brilhantismo e erudição de Poe com a sua cansativa redundância, que, é importante ressaltar, nem sempre é chata, como no conto Escaravelho de Ouro, no qual ele faz uma imensa descrição do mistério e o desvela usando até conhecimentos químicos. Na verdade, apesar de em algumas vezes ser desnecessário (me fez inclusive largar um conto, que não me lembro qual foi), demonstra o imenso cuidado que ele sempre teve na criação de belas obras, de clássicos completos; isso é admirável.






O QUE FICOU DO QUE PASSOU: o contista que entrou no mesmo panteão dos romancistas


De qualquer maneira, saio da leitura de Poe com a certeza de que ela não será a última. Não encontrei outro exemplo que faça frente a este autor no quesito criação de mistérios e cuidado com o enredo. Queria poder dar um abraço e dizer que ele arrasa, mas esse privilégio nunca me será concedido. Poe atingiu o feito de ser reconhecido como um dos deuses da literatura universal. Este lugar só é comumente reservado aos romancistas. Poe trabalhava tão arduamente em seus contos que, mesmo que tarde demais, foi posto em sua devida posição de lenda da literatura.

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