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sábado, 10 de fevereiro de 2018

Octaedro (Júlio Cortázar)




Octaedro é um livro de contos do escritor argentino Júlio Cotázar, no qual está contido oito histórias (como o título complicado insinua). Em cada título, se faz presente o desprezo pelas convenções estilísticas do meio literário. Júlio persegue o mistério e o-que-há-por-dizer, sem haver muito o que se possa chamar de desfecho, um fluxo de consciência que o escritor não controla mas, pelo contrário, transmuta como sua característica principal.

Sinopse

Como já explicado, os contos de Cortázar usam o mistério como um traço peculiar, a partir da criação de um universo psicologicamente ambientado pelo escritor, mas sem haver uma conclusão na maioria dos casos, uma vez que a áurea mental, constituída de forma bastante obscura, é o que mais importa nas tramas.

Sempre gosto de citar os contos inaugurais dos livros, mesmo que não haja um motivo em espacial para eu lembrá-lo aqui por si só, levando em conta a possibilidade de haver um bom motivo para aquele trabalho ter sido escolhido para as boas-vindas. No caso de Octaedro, é a história Liliana chorando. A estória de um senhor em leito de morte que ama escrever, discorrendo sobre as visitas que recebe, os anseios restantes em alguém que está prestes a morrer, sobre o quanto a escrita alivia a sua dor, e, por fim, insinuando-se no título, em como a sua esposa Liliana desfaz-se em prantos ante a eminência da sua morte e como ela conseguirá viver depois. 

Dois outros contos me chamaram a atenção. Em Passos no rastro, o protagonista é um acadêmico que consegue fama ao tornar-se biógrafo de um poeta ilustre entre a aristocracia letrada da Argentina. Bom, até aí nada de muito interessante. Mas o que acontece com a personagem principal é que, por sua admiração pelo artista, ele dedicou horas e horas diárias de pesquisa para construir uma imagem pra lá de positiva do autor, sem contradições e focada em passagens gloriosas, o que lhe rendeu atenuada admiração e algumas premiações – ao descobrir algumas escrotices do poeta por meio sobretudo de cartas, suas ilusões foram postas abaixo.

Em Verão a ambientação psicológica e um quê surrealístico são elevados à sua máxima expressão na obra. Um casal e uma garota (que não é filha deles, mas de algum colega) estão descansando em uma casa de campo por ocasião das férias. Na hora de dormir, a mulher avista um cavalo errante para lá da janela, que começa a andar para lá e para cá em passos lentos. Esses movimentos deixam-na aterrorizada (e talvez o leitor também, pela forma como Cortázar trabalha as cenas), e a partir daí o marido se encarrega de acalmá-la de alguma forma.

O que ficou do que passou

Apesar de ter sido bem recebido, encontrei pouca coisa interessante no livro. Ta legal que deixar as normas e as convenções literárias de lado é um traço costumeiramente positivo, como no caso do meu escritor favorito (Saramago). Já no caso de Júlio Cortázar, pelo contrário, torna quase todos os contos simplesmente incompreensíveis, fazendo com que o fluxo de consciência — talvez a sua característica mais notável — nem mesmo faça algum sentido.

Em muitas passagens, esse derramamento meio aleatório de palavras até faz sentido, mas em nenhum momento é belo nem atrativo. Isso para não falar de dois protagonistas de dois diferentes contos que, ao praticarem um “jogo”, praticamente perseguem mulheres nos metrôs. Parece mais um assédio do que um jogo, em minha rasa interpretação.


Como ponderação, o conto Verão é realmente belo (e meio assustador), embora não faça valer à pena sujeitar-se a gastar uma grana e um tempo com o livro.  

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