Octaedro é
um livro de contos do escritor argentino Júlio Cotázar, no qual está contido
oito histórias (como o título complicado insinua). Em cada título, se faz
presente o desprezo pelas convenções estilísticas do meio literário. Júlio
persegue o mistério e o-que-há-por-dizer, sem haver muito o que se possa chamar
de desfecho, um fluxo de consciência que o escritor não controla mas, pelo
contrário, transmuta como sua característica principal.
Sinopse
Como
já explicado, os contos de Cortázar usam o mistério como um traço peculiar, a
partir da criação de um universo psicologicamente ambientado pelo escritor, mas
sem haver uma conclusão na maioria dos casos, uma vez que a áurea mental,
constituída de forma bastante obscura, é o que mais importa nas tramas.
Sempre
gosto de citar os contos inaugurais dos livros, mesmo que não haja um motivo em
espacial para eu lembrá-lo aqui por si só, levando em conta a possibilidade de
haver um bom motivo para aquele trabalho ter sido escolhido para as
boas-vindas. No caso de Octaedro, é a história Liliana chorando. A estória de um senhor em leito de morte que ama
escrever, discorrendo sobre as visitas que recebe, os anseios restantes em
alguém que está prestes a morrer, sobre o quanto a escrita alivia a sua dor, e,
por fim, insinuando-se no título, em como a sua esposa Liliana desfaz-se em
prantos ante a eminência da sua morte e como ela conseguirá viver depois.
Dois
outros contos me chamaram a atenção. Em Passos
no rastro, o protagonista é um acadêmico que consegue fama ao tornar-se
biógrafo de um poeta ilustre entre a aristocracia letrada da Argentina. Bom,
até aí nada de muito interessante. Mas o que acontece com a personagem
principal é que, por sua admiração pelo artista, ele dedicou horas e horas
diárias de pesquisa para construir uma imagem pra lá de positiva do autor, sem
contradições e focada em passagens gloriosas, o que lhe rendeu atenuada
admiração e algumas premiações – ao descobrir algumas escrotices do poeta por
meio sobretudo de cartas, suas ilusões foram postas abaixo.
Em
Verão a ambientação psicológica e um
quê surrealístico são elevados à sua máxima expressão na obra. Um casal e uma
garota (que não é filha deles, mas de algum colega) estão descansando em uma
casa de campo por ocasião das férias. Na hora de dormir, a mulher avista um
cavalo errante para lá da janela, que começa a andar para lá e para cá em
passos lentos. Esses movimentos deixam-na aterrorizada (e talvez o leitor
também, pela forma como Cortázar trabalha as cenas), e a partir daí o marido se
encarrega de acalmá-la de alguma forma.
O que ficou do que passou
Apesar
de ter sido bem recebido, encontrei pouca coisa interessante no livro. Ta legal
que deixar as normas e as convenções literárias de lado é um traço
costumeiramente positivo, como no caso do meu escritor favorito (Saramago). Já
no caso de Júlio Cortázar, pelo contrário, torna quase todos os contos
simplesmente incompreensíveis, fazendo com que o fluxo de consciência — talvez
a sua característica mais notável — nem mesmo faça algum sentido.
Em
muitas passagens, esse derramamento meio aleatório de palavras até faz sentido,
mas em nenhum momento é belo nem atrativo. Isso para não falar de dois protagonistas
de dois diferentes contos que, ao praticarem um “jogo”, praticamente perseguem
mulheres nos metrôs. Parece mais um assédio do que um jogo, em minha rasa
interpretação.
Como
ponderação, o conto Verão é realmente belo (e meio assustador), embora não faça
valer à pena sujeitar-se a gastar uma grana e um tempo com o livro.
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