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domingo, 26 de agosto de 2018

Melhores Contos (Domingos Pellegrini)



Uma vez concluída a leitura do momento, em uma quarta-feira aleatória, percebi que já havia algum tempo que eu não frequentava a biblioteca de minha cidade, de onde veio grande parte da minha leitura. Percorri as estantes estranhando a nova arrumação. Estava em busca de um livro com linguagem coloquial, era a vibe do momento. Encontrei Domingos Pelegrini em um livro que não me interessou pela capa. O fascínio veio quando abri um conto aleatório e percebi a riqueza das descrições.

Domingos Pelegrini, escritor do norte do Paraná, é um entusiasta da literatura que, contraditoriamente, parou de ter contato com os livros: é que ele registra em seus contos a linguagem simples e informal dos lugares diversos por onde passou, sobretudo, como acabei de dizer, o Paraná. A ideia desse afastamento é que se ele continuar lendo a palavra impressa, pode se contaminar com alguma afetação estilística, alguma complicação literária. Para aguçar o seu estilo e continuar escrevendo como se fala, ele recorre aos filmes.

O escritor se tornou um dos mais prestigiados do realismo contemporâneo brasileiro, além de ser amplamente conhecido por seus livros infanto-juvenis. Buscando reunir o realismo e o coloquial para sintetizar as principais características de Pelegrini em um só livro, Miguel Sanches Neto organizou a coletânea Melhores Contos.

Pellegrini também tem um forte lado político. Foi militante de movimento social e se tornou sensibilizado pelas causas coletivas. Os seus contos já tiveram forte ligação com a militância, mas, com o passar do tempo, o autor foi dando novas roupagens por meio de novas edições para ofuscar um pouco essa característica.

SINOPSE

Em A maior ponte do mundo, o conto que eu mais gostei, Pellegrini usa a construção da ponte Rio-Niterói como cenário da trama. Lemos a descrição em primeira pessoa de um dos mais de dez mil operários que construíram a ponte. As noites e noites em claro, a garrafa de café que circulava na construção para mantê-los acordados, as jornadas de trabalho que ultrapassavam as quinze horas, tudo isso descrito com riqueza de detalhes e com diálogos hilários.

Em Guerra Civil, vemos um pouquinho do seu lado militante, mesmo o tema central não sendo o acampamento dos sem-terra em si, mas os cachorros que os acompanhavam. É notável a sutileza com a qual ele introduz o tema dos latifúndios e da luta de classes entre os donos dos latifúndios e os sem-terra. Em nenhum momento o foco deixa de ser os cachorros, no entanto, o político que defende o latifundiário e ao mesmo tempo apoia o movimento em busca de votos, a injustiça de tanto espaço desperdiçado, sem uso,  e tanta gente sem teto nem terra, tudo isso passa pelo plano de fundo e nos deixa profundas reflexões.

O conto que inaugura o livro, O encalhe dos trezentos é bastante regionalista. O material mental de Pellegrini é a região na qual nasceu, o norte do Paraná. O conto é sobre quando um enorme atoleiro de mais de trezentos veículos pára todo o trânsito e até, em certo ponto, freia a economia da região. A gigantesca fila automotiva encalhada deixa milhares de pessoas na mão. No meio de toda essa bagunça, acontecem diversas confusões, conversas, risadas e choros.

O que ficou do que passou

Este é um livro daqueles que se lê rapidinho, que não dá para dar um basta quando se precisa parar. Uma página a mais, um continho a mais, é muito complicado dar um descanso da leitura. Domingos tem um estilo de escrita muito particular. Uma das várias maneiras coloquiais de se falar português é expressa em sua escrita. Por ser um escritor tão impactante neste sentido, é uma indicação para você que busca um pouquinho de espanto.



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