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domingo, 11 de novembro de 2018

Ao Sul de lugar nenhum (Charles Bukowski)




O velho safado, ou velho Buk, também conhecido por aí como Bukowski, nascido na Alemanha e criado nos Estados Unidos, foi um poeta, contista, romancista, faxineiro, carteiro, algumas profissões só para começar a lista, que marcou época por seu estilo marginal e tão forte que (1) não dá para ler sem que se faça uma caretinha um pouco disfarçada, de canto, com os olhos arregalados e focados no chão, e que (2) faz a gente ler escondido de todo mundo.
Apesar de ter cultivado o hábito de escrita desde a adolescência, só conseguiu se profissionalizar bem velho, com quase 60 anos. Quando jovem, seus trabalhos eram frequentemente recusados pelas editoras e revistas. Aliás, começou com a literatura quando seu pai, também Bukowski, um homem amargo, violento e autoritário, deu uma máquina de escrever para ele – só que não aguentou o que leu depois, por isso, ao conhecer os escritos do filho, expulsou o garoto de casa.

Podemos começar a desbravar esses contos por meio de Ao sul de lugar nenhum, uma coletânea lançada em 1973 na qual se encontram os absurdos mais nojentos e as qualidades mais marcantes do velho Buk.

Sinopse de Ao Sul de lugar nenhum

Na maioria dos contos, o protagonista é Henry Chinasky, o personagem mais conhecido do autor. Você também pode deixar de chama-lo de personagem e trocar para pseudônimo, porque, abertamente, o estilo de Bukowsky é muito autobiográfico. Chinasky é Bukowsky, um escritor maldito, um pária, um velho alcóolatra e escroto com cara achatada que se vê em situações ridículas e escreve ótimos contos, que, complementados com algumas louças em restaurantes, conseguem garantir o dinheiro da bebedeira e das apostas em corridas de cavalo.

Mas Bukowsky se deixa um pouco de lado em alguns momentos, também decisivos para você compreender quem é o velho como contista (não o conheço como poeta). Big Bart é o protagonista do conto Pare de olhar para as minhas tetas, senhor, um homem do velho oeste que vive para matar índios e transar. Aqui a gente já começa a perceber que a primeira parte do livro é MUITO PESADA. Estupro é um tema recorrente, então, recomendo que, se não tiver estômago para isso, passe para a segunda parte do livro, que inclusive é bem melhor do que a primeira.
Mas o livro serve, também, para mostrar como Bukowsky escreve bem e de maneira envolvente. A síntese da segunda parte do livro está no último conto, Confissões de um homem suficientemente insano para viver, em que Chinasky está no auge da decadência, é despedido de mais um quarto e parte para outro hotel para retomar a farra, agora acompanhado de K., uma ex-showgirl. Além disso, quando Chinasky precisa se submeter a uma cirurgia de hemorroidas, o escritor faz uma descrição descarnada do cotidiano hospitalar. Vale muito à pena ler este conto.

O que ficou do que passou

Em minha leitura, dividi o livro em duas partes. A primeira parte do livro parece ter sido escrita trinta anos antes da segunda. A escrita é tão simples, crua e forte como todo o restante da obra, mas o estilo é outro, um pouco mais corrido e dentro de certo fluxo de consciência; já os temas são nojentos, para não dizer ilegíveis. Personagens mulheres sem muito desenvolvimento (poucas exceções) que só gostam de homens durões, chegando ao absurdo de gostarem de terem sido estupradas, decadentes homens-cópias uns dos outros e cenas lamentáveis.
Apesar disso, o conto que apresenta Chinasky (não me lembro qual o título), é muito bom mesmo. Traduzindo: se você não quer ver um apanhado de nojeiras doentis e pervertidas, não leia a metade inicial. Foi bem difícil para mim, mas, como finalmente tinha chegado a hora de eu lidar com Bukowsky, resolvi encarar.
A segunda parte, porém, mostra um Bukowsky com um estilo bacana de escrever os contos, separando-os por capítulos numerados e bem concisos, transportando o minimalismo de suas frases para a estrutura geral, em contos capitulados. E mais complexos, com histórias mais bem ambientadas e desenvolvidas.
Apesar dos temas não terem relação de causas uns com os outros, as histórias giram em torno da decadência de um Chinasky que havia sido construído no começo e metade do livro. Aqui o livro é bem melhor, porque Buk prefere criar e desenvolver personagens que fazem mais mal a si mesmos do que aos outros. A velha ordem do escritor teuto-alemão, porém, continua a mesma: protagonistas homens, boêmios, marginais.
Nos pontos altos, então, como expliquei acima, o livro é realmente surpreendente. Para quem, assim como eu, só conhecia alguns trechos desconexos de poesias obscuras do autor, serve muito bem como uma mostra do que ele pode nos deixar de nojo e de admiração. Aproveite com cuidados como os que citei e outros não citados, e boa leitura!




Um comentário:

  1. Com Bukowski é sempre assim: Um misto de Amor/ódio/Amor/e mais ódio. Tem coisas que ele escreveu que penso: Cara maluco e babaca. Mas outras coisas a gente diz: Putaquepariu. Esse cara sabia das coisas.
    Sempre digo para quem quer ler: Saiba separar as coisas e não leve tudo a ferro e fogo.
    Sou fã do velho Buk e na minha opinião, ele tem muita coisa que podemos usar no dia a dia.

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