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domingo, 9 de setembro de 2018

Subterrâneos da Liberdade (trilogia de Jorge Amado)



Jorge Amado foi um romancista, novelista, político, militante e se ocupou com diversas outras coisas legais em sua vida. O resultado disso tudo foi o reconhecimento mundial e a posição de referência história do gênero literário realista. Durante os próximos meses ou anos, de forma esparsa e nem um pouco responsável, me ocuparei de identificar as diferentes tendências realistas que perpassaram a sua obra. A fase de hoje foi o que o introduziu na ficção, em seu período de atuação comunista, quando se utilizou do conceito de luta de classes para significar as suas criações. Só para se ter uma ideia, o terceiro livro da série, A Lúz do Túnel, foi lançado primeiramente na Tchecoslováquia, em 1952, quando Jorge Amado ainda estava exilado.
A trilogia Subterrâneos da Liberdade foi publicada entre 1937 e 1953. Está neste formato por ideia, inicialmente, da Editora Martins, que atendeu ao desejo original do escritor, que era lançar uma sequência com os três livros. Na época, porém, os títulos foram lançados separadamente, apesar da sequência narrativa e histórica e das referências aos personagens uns dos outros.
O objeto da série é o período do Estado Novo, regime político instaurado pelas forças políticas capitaneadas pelo presidente Vargas, que impôs restrições severas às forças sindicais que combatiam a acentuada exploração do trabalho presente no período de industrialização do Brasil, especialmente sobre a atuação do Partido Comunista Brasileiro, pelo qual fora deputado na década de 30 do século XX. O contexto mundial era de fortalecimento das forças fascistas e a forte disputa destas com outras tendências capitalistas. Isso sem dizer do socialismo soviético, que comprou a briga quando percebera o perigo nazista, o que resultou em um verdadeiro massacre de trabalhadores nas fileiras do exército vermelho – pelo menos, fica para a história como o verdadeiro exército responsável pela derrota nazista.
No primeiro título, Ásperos Tempos, Jorge Amado ambienta o seu romance na cidade de São Paulo, meados do ano de 1935, quando os integralistas, Getúlio Vargas, os comunistas e diversas outras forças políticas estão em plena disputa pelo poder e pela consciência da classe trabalhadora, que se formava fortemente no contexto de industrialização do Brasil.
Neste contexto pré-golpe, os círculos comunistas entendem Getúlio Vargas basicamente como um pau-mandado do imperialismo estadunidense. Todos estão em dúvida do que pode ocorrer, o período é confuso e o avanço de ideias preconceituosas e supremacistas assusta o Brasil. É aí que conhecemos alguns dos principais personagens, como o banqueiro Costa Vale, o comunista Ruivo, o poeta Shopel (puxa-saco dos homens de poder). Bom, o desfecho dessa história pode ser mais ou menos antecipada lendo um simples livro didático...
No segundo título, já no governo ditatorial do Estado Novo, o tema é uma polêmica greve dos trabalhadores portuários no Porto de Santos, onde estavam sendo recebidas mercadorias resultantes de tratativas econômicas entre o governo Vargas e o governo nazista. Os trabalhadores se organizaram em uma greve clandestina, bastante enfezados com as relações estreitas mantidas entre o Brasil e nações fascistas.

No terceiro título, A Luz do Túnel, o país continua no governo varguista, agora um pouco mais enfraquecido politicamente - já em sua reta final. O livro começa suoper pesadamente, com cenas de graves torturas sofridas por personagens militantes que apareceram nas outras tramas. Embora de inegável avanço industrial, eram tempos sombrios para quem lutava contra o poder. Amado dá bastante atenção aos círculos intelectuais socialistas e à repressão da polícia aos operários, principalmente na diferença de tratamento entre os comunistas mais aristocráticos e os mais pobres.
O que ficou do que passou?
Os livros não são as obras-primas de Jorge Amado, porém, para quem se interessa pela história política do país (como eu, estudante de História), são os melhores livros que já encontrei. Nos deparamos com o Jorge Amado no auge da sua atuação comunista. No meio de todo o pragmatismo materialista que cerca a obra, é interessante se deparar com o idealismo comunista que move os e as protagonistas e que dão razão à vida de Jorge Amado naquele momento. Não dá pra rir em nenhuma cena de qualquer um dos livros, característica bem diferente daquilo que se encontra numa época um pouco mais recente da sua vida, quando trocou o realismo materialista pelo realismo carnavalesco - o grotesco e o riso passaram a ser suas principais marcas e se transformaram em seu legado.

2 comentários:

  1. Fiquei interessada nessa aula de História do Jorge Amado, gosto muito do autor. Lerei!
    Você acha que essa trilogia, completa ou separadamente, pode ser usada como material didático complementar para o ensino de História? Que faixa etária você acredita que esse livro busca?

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  2. Com certeza tem muito potencial para se usar na sala de aula. O professor, como você bem sabe, vai ter que "traduzir" o que está escrito ali. A escrita é bem simples pra época, mas, pra adolescentes, complica um pouco, ainda mais com as referências vindas do universo da militância comunista... Mas o pano de fundo histórico da obra é sensacional, dá pra trabalhar com Ensino Médio que não tem erro. É um autor que a gente não pode ignorar.

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