Jorge Amado foi um
romancista, novelista, político, militante e se ocupou com diversas outras
coisas legais em sua vida. O resultado disso tudo foi o reconhecimento mundial
e a posição de referência história do gênero literário realista. Durante os próximos
meses ou anos, de forma esparsa e nem um pouco responsável, me ocuparei de
identificar as diferentes tendências realistas que perpassaram a sua obra. A
fase de hoje foi o que o introduziu na ficção, em seu período de atuação
comunista, quando se utilizou do conceito de luta de classes para significar as
suas criações. Só para se ter uma ideia, o terceiro livro da série, A Lúz do Túnel, foi lançado primeiramente na Tchecoslováquia, em 1952, quando Jorge Amado ainda estava exilado.
A trilogia Subterrâneos
da Liberdade foi publicada entre 1937 e 1953. Está neste formato por ideia, inicialmente, da
Editora Martins, que atendeu ao desejo original do escritor, que era lançar uma
sequência com os três livros. Na época, porém, os títulos foram lançados
separadamente, apesar da sequência narrativa e histórica e das referências aos
personagens uns dos outros.
O objeto da série é o
período do Estado Novo, regime político instaurado pelas forças políticas
capitaneadas pelo presidente Vargas, que impôs restrições severas às forças
sindicais que combatiam a acentuada exploração do trabalho presente no período
de industrialização do Brasil, especialmente sobre a atuação do Partido Comunista
Brasileiro, pelo qual fora deputado na década de 30 do século XX. O contexto
mundial era de fortalecimento das forças fascistas e a forte disputa destas com
outras tendências capitalistas. Isso sem dizer do socialismo soviético, que
comprou a briga quando percebera o perigo nazista, o que resultou em um
verdadeiro massacre de trabalhadores nas fileiras do exército vermelho – pelo
menos, fica para a história como o verdadeiro exército responsável pela derrota
nazista.
No primeiro título,
Ásperos Tempos, Jorge Amado ambienta o seu romance na cidade de São Paulo,
meados do ano de 1935, quando os integralistas, Getúlio Vargas, os comunistas e
diversas outras forças políticas estão em plena disputa pelo poder e pela consciência
da classe trabalhadora, que se formava fortemente no contexto de
industrialização do Brasil.
Neste contexto
pré-golpe, os círculos comunistas entendem Getúlio Vargas basicamente como um
pau-mandado do imperialismo estadunidense. Todos estão em dúvida do que pode
ocorrer, o período é confuso e o avanço de ideias preconceituosas e
supremacistas assusta o Brasil. É aí que conhecemos alguns dos principais
personagens, como o banqueiro Costa Vale, o comunista Ruivo, o poeta Shopel
(puxa-saco dos homens de poder). Bom, o desfecho dessa história pode ser mais
ou menos antecipada lendo um simples livro didático...
No segundo título, já
no governo ditatorial do Estado Novo, o tema é uma polêmica greve dos
trabalhadores portuários no Porto de Santos, onde estavam sendo recebidas
mercadorias resultantes de tratativas econômicas entre o governo Vargas e o
governo nazista. Os trabalhadores se organizaram em uma greve clandestina,
bastante enfezados com as relações estreitas mantidas entre o Brasil e nações
fascistas.
No terceiro título, A
Luz do Túnel, o país continua no governo varguista, agora um pouco mais
enfraquecido politicamente - já em sua reta final. O livro começa suoper
pesadamente, com cenas de graves torturas sofridas por personagens militantes
que apareceram nas outras tramas. Embora de inegável avanço industrial, eram
tempos sombrios para quem lutava contra o poder. Amado dá bastante atenção aos
círculos intelectuais socialistas e à repressão da polícia aos operários,
principalmente na diferença de tratamento entre os comunistas mais aristocráticos
e os mais pobres.
O que ficou do que passou?
Os livros não são as
obras-primas de Jorge Amado, porém, para quem se interessa pela história
política do país (como eu, estudante de História), são os melhores livros que
já encontrei. Nos deparamos com o Jorge Amado no auge da sua atuação comunista.
No meio de todo o pragmatismo materialista que cerca a obra, é interessante se
deparar com o idealismo comunista que move os e as protagonistas e que dão
razão à vida de Jorge Amado naquele momento. Não dá pra rir em nenhuma cena de
qualquer um dos livros, característica bem diferente daquilo que se encontra
numa época um pouco mais recente da sua vida, quando trocou o realismo
materialista pelo realismo carnavalesco - o grotesco e o riso passaram a ser
suas principais marcas e se transformaram em seu legado.
Fiquei interessada nessa aula de História do Jorge Amado, gosto muito do autor. Lerei!
ResponderExcluirVocê acha que essa trilogia, completa ou separadamente, pode ser usada como material didático complementar para o ensino de História? Que faixa etária você acredita que esse livro busca?
Com certeza tem muito potencial para se usar na sala de aula. O professor, como você bem sabe, vai ter que "traduzir" o que está escrito ali. A escrita é bem simples pra época, mas, pra adolescentes, complica um pouco, ainda mais com as referências vindas do universo da militância comunista... Mas o pano de fundo histórico da obra é sensacional, dá pra trabalhar com Ensino Médio que não tem erro. É um autor que a gente não pode ignorar.
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