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domingo, 6 de maio de 2018

Livros que bagunçam o (nosso) tempo e o (nosso) espaço


Livros que bagunçam o (nosso) tempo e o (nosso) espaço

Existem histórias que viram de cabeça para baixo a percepção espaçotemporal. Causam uma profunda reflexão sobre a vida. Aquela concepção de início-meio-e-fim — com amigos, parentes e colegas de personalidades bem definidas que se cristaliza em nossa cabeça por conta das nossas relações sociais — se descarta nessas tramas a partir de acontecimentos intrigantes que surpreendem os protagonistas e os leitores.

Imagine você, em mais um dia normal, ser pego de surpresa por algo que vai mudar para sempre a relação com a sua família, amigos, enfim, com a vida? Os protagonistas são arrebatados da normalidade em função de algum motivo misterioso, externo, e são jogados para outro tempo ou espaço.

O ponto desta resenha é a profunda impressão sentimental que essas histórias provocam: uma reflexão tão abissal que é capaz de jogar o leitor para longe de sua zona de conforto. Quando eu li esses livros, foi impossível não transpor a ficção para a realidade e ficar tentando encontrar soluções junto com as personagens.

As primeiras quinze vidas de Harry August
Nesta obra de Claire North, pseudônimo de Catherine Webb, Harry August é uma pessoa que vive sempre o mesmo ciclo biológico. Nasce com a mesma família, no mesmo local, e morre com a mesma doença. No entanto, as suas memórias são conservadas. Basta completar quatro anos que ele começa a lembrar das outras vidas. A trama ganha corpo quando Harry August descobre que não é a única pessoa no mundo que vive assim.





Matéria Escura
Em Matéria Escura, Jason é um professor de física nuclear de uma universidade; Daniela, uma professora de artes. Os dois, quando jovens, prometiam serem os mais talentosos em suas áreas. Mas a gravidez de Daniela definiu a prioridade de ambos: a família. Porém, quinze anos depois, Jason é sequestrado e acorda sendo o maior físico nuclear do mundo. Um mundo que, no entanto, não constituiu família com Daniela. Um novo choque de prioridades o atinge.



O Andarilho das estrelas (Jack London)
Desta lista, este é o único em que o misticismo dá as caras, obra justamente de um dos escritores mais notavelmente materialistas da história da literatura. Aqui, um ex-professor universitário, condenado à prisão perpétua e sofrendo torturas intermináveis, consegue se desligar do seu corpo e visitar existências anteriores para evitar a dor insuportável da tortura da camisa-de-força. O livro se torna quase que uma coleção de contos em primeira pessoa, que vai de um dos algozes de Jesus até um náufrago que tem que se virar numa ilha deserta.



Estes livros foram uns dos que mais me fizeram viajar. Causaram profunda impressão e até hoje eu me pego pensando neles em diversas situações. Quando estou num aperto, por exemplo, penso que eu ainda vou ter outra chance de contornar a situação, como em As primeiras quinze vidas de Harry August. Quando sou idiota com pessoas que eu amo, penso o quanto devo a elas os períodos de bem-estar pelos quais passei nessa vida, motivado por Matéria Escura.  Só não consigo, é claro, ter experiências extracorpóreas como em O Andarilho das estrelas. Mas não faz mal, tenho certeza de que Jack London, mais do que ninguém, me compreenderia. 

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