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terça-feira, 17 de abril de 2018

O Sol na Cabeça


Titulo: O Sol na Cabeça
 Autor: Geovani Martins
Editora:Companhia das Letras
Ano: 2018

Sinopse:
Com a estreia de Geovani Martins, a literatura brasileira encontra a voz de seu novo realismo. Nos treze contos de O sol na cabeça, deparamos com a infância e a adolescência de moradores de favelas – o prazer dos banhos de mar, das brincadeiras de rua, das paqueras e dos baseados –, moduladas pela violência e pela discriminação racial.

Em O sol na cabeça, Geovani Martins narra a infância e a adolescência de garotos para quem às angústias e dificuldades inerentes à idade soma-se a violência de crescer no lado menos favorecido da “Cidade partida”, o Rio de Janeiro das primeiras décadas do século XXI.

Em “Rolézim”, uma turma de adolescentes vai à praia no verão de 2015, quando a PM fluminense, em nome do combate aos arrastões, fazia marcação cerrada aos meninos de favela que pretendessem chegar às areias da Zona Sul. Em “A história do Periquito e do Macaco”, assistimos às mudanças ocorridas na Rocinha após a instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, a UPP. Situado em 2013, quando a maioria da classe média carioca ainda via a iniciativa do secretário de segurança José Beltrame como a panaceia contra todos os males, o conto mostra que, para a população sob o controle da polícia, o segundo “P” da sigla não era exatamente

uma realidade. Em “Estação Padre Miguel”, cinco amigos se veem sob a mira dos fuzis dos traficantes locais.

Nesses e nos outros contos, chama a atenção a capacidade narrativa do escritor, pintando com cores vivas personagens e ambientes sem nunca perder o suspense e o foco na ação. Na literatura brasileira contemporânea, que tantas vezes negligencia a trama em favor de supostas experimentações formais, O sol na cabeça surge como uma mais que bem-vinda novidade.

“Geovani pula da oralidade mais rasgada para o português canônico como quem respira. Uma nova língua brasileira chega à literatura com força inédita.” — João Moreira Salles

“Fiquei chapado.” — Chico Buarque

 Resenha:

Já li muitos livros sobre o cotidiano do Rio de Janeiro, alguns dos ponto de vista da "classe alta", outros da "classe média ", vários deles com foco no morador das periferias. Porém até hoje não tinha lido um livro escrito por de fato alguém que conhece as favelas tão de perto. 

Enquanto Gilberto Gil canta que o Rio de Janeiro continua lindo Giovani Martins mostra abertamente o cotidiano de quem vive no lado feio.
Some um bom autor a um momento ímpar vivido pela população do Rio. O resultado é um fenômeno de vendas. 

Uma das características mais marcantes no livro é o amplo domínio das diversas facetas  linguísticas orais. 

Confesso que me senti bem perdida em alguns contos, talvez por ser de outro estado. Exemplo da minha dificuldade é o primeiro conto Rolezim.
Passei toda leitura do texto buscando compreender sua essência já que as palavras são completamente desconhecidas. 

A história, a identidade e a finalidade do conto em trazer a tona parte do dia a dia de um jovem são bem apresentadas.

Por outro lado alguns outros contos o leitor se conecta facilmente, Espiral traz a tona o quanto o racismo afeta uma pessoa aí longo de sua infância e adolescência. Este me fez refletir. Quantas vezes Santos medo do desconhecido sem qualquer razão ou motivos justificáveis?

Destaco por fim o conto Sextou. O melhor dos contos mostra de forma aberta os sentimentos de raiva/ ódio que a diferença social causa.
 
Questões atuais como racismo, preconceito social, drogas, suicídios, assassinatos causados pela polícia estão no centro dos contos por meio de histórias corriqueiras vividas e contadas pela população local. 

O livro todo remete a uma conversa cotidiana. Me senti em  um bate papo Onde uma pessoa conhecida  conta uma história do dia a dia.

Qual o maior mérito do livro? 

Trazer a tona a voz de quem só é ouvido pela mídia em entrevistas de velório de seus entes queridos mortos por uma "bala perdida". 

Existem milhares de vozes caladas, ansiando para  apresentarem a sociedade, mostrar a realidade sem filtros e principalmente questionar o que é ter direitos iguais e ser considerado um cidadão brasileiro.

Considerações Finais:

A edição do livro é bem trabalhada, assim como a diagramação. A capa é coerente a obra, minimalista e intensa. 

Se você é um leitor avesso a contos, convido a ler o livro de Geovani Martins, sua convicção pode se abalar ao abrir a mente para o processo construido pelo autor.

Com todas as avessas e contradições, a publicação do O Sol na Cabeça representa um marco para a literatura contemporânea brasileira.

Leu? Gostou? Comenta.




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