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domingo, 3 de junho de 2018

O homem invisível (H.G. Wells)



Hoje nós vamos falar sobre um livro de um escritor que  eu nunca havia lido antes. A lenda H.G. Wells, em O homem Invisível. Bom, antes que você, leitor(a), leia o resto do presente texto, adianto: em função do vício e de ter devorado em tão pouco tempo, não me conformei e, no momento, já estou lendo outro livro do mesmo autor. Daí se deduz a qualidade da obra.

SINOPSE

A novela conta a história de um homem misterioso (Griffin) que chega a uma pequena aldeia, chamada Iping, mais especificamente numa estalagenzinha, na qual ele passa dias inteiros trancado, pesquisando, escrevendo, falando sozinho e apresentando um comportamento pra lá de arrogante, antissocial e oculto.

A primeira cena do livro é icônica (não vi o filme, mas merecia ser retratada fielmente). A reação imediata da estalajadeira — e, aliás, não só dela — foi de estranhamento, uma vez que o enigmático indivíduo não tirou o seu sobretudo (era inverno, mas na Inglaterra é costume tirar o casaco ao entrar num aposento), nem o seu chapéu e, pasme, o rosto estava inteiramente coberto por bandagens. A única parte do corpo à vista era a ponta do nariz. Aliás, para se ter uma imagem completa do homem, basta acrescentar ao que já foi dito um óculos azul (ao menos eu imaginei desta cor por algum motivo, talvez Wells tenha realmente especificado e eu esteja confuso). Ou seja, trata-se de uma pessoa intrigante a níveis absurdos.

Em vista disso, a pacata vida da aldeia ferve em especulações. De onde teria vindo? Quem é o sujeito? Neste quadro, Wells exibe a sua maior qualidade (ao menos neste livro), que é a de apresentar os fatos populares com um olhar prosaico. Nem o próprio leitor está bem situado na história, o narrador apresenta apenas o que, no máximo, a estalajadeira (a pessoa mais próxima dele, evidentemente) percebe. Isto é, o olhar do leitor é o olhar dos moradores da vila.

Daí que se apresentam, como Wells coloca, as “escolas de pensamento”. Algumas dizem que o sujeito é um simples malfeitor fugindo à polícia, outros que ele está lá justamente para planejar um assalto ou algo do tipo. Uma pequena população, ainda, mas já depois de algum tempo de sua chegada, afirmam que ele é uma aparição fantasmagórica.

A invisibilidade é um tema que, sobretudo no século XIX, suscitou grande fascinação. No entanto, vários foram os dilemas apresentados a Griffin logo quando se tornou invisível. Tinha que ficar com todo o corpo nu (pois seria estranho ver roupas andando sozinhas por aí) e passar dias inteiros de jejum, a menos que se escondesse após as refeições, porque a comida se mantinha visível enquanto não estava digerida, além de sofrer por uma solidão irremediável.

Griffin resolve lidar com isso de uma maneira bem particular. Tem gênio pra lá de egoísta, e pretende instaurar um reinado de terror para enriquecer e exercer dominação. Sua megalomania só se agrava com a invisibilidade e o que para muitos é um sonho, o homem invisível descobriu na prática ter sido a sua deteriorização moral e psicológica.

O QUE FICOU DO QUE PASSOU

A edição que eu li foi um ebook do Kindle. Poucas vezes me decepcionei tanto com um prefácio. Que coisa horrível! Dá vontade de gritar para o mundo: não leiam essa introdução pelo bem que vocês têm ao mistério dos enredos. Você começa a ler tranquilamente, quando, num descuido, a história inteira é contada em um parágrafo. Fiquei me iludindo durante todo o livro, mesmo contra todas as evidências, de que não, não seriam revelações cruciais as que eu li, não se referem à história; mas sim, eram sim. E eu, eu mesmo, que há mais ou menos um ano finalmente me convenci de que os prefácios são essenciais, de que não mais leria um livro sem conferi-los... quebrei a cara.

Mas, positivamente, as frases claras e concisas, a economia de detalhes e consequente objetividade (que desagrada a muitos; não a mim), o jeito à lá cronista de contar histórias são apenas umas das qualidades que notei em Wells. Não é alguém a se procurar caso queira encontrar personagens que lhe dêem o segredo da vida. Não. Mas, caso esteja começando a ler ou mesmo se quer relaxar após a leitura de algo penoso, ta aí uma ótima pedida.

Agora sei o escritor que indicarei nos próximos meses aos que me pedirem, pois Wells mistura a simplicidade do imaginário popular com uma enorme complexidade e pesquisa científica para embasar a trama. Verdadeiramente, fiquei fissurado.




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