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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Mudbound: Lágrimas sobre o Mississipi (Hillary Jordan)


Sinopse:
   
     Um amor proibido, uma traição terrível, uma agressão selvagem. Um romance de força impressionante, que nos faz mergulhar nas contradições do Mississippi pós-Segunda Guerra Mundial.
     Ao descobrir que o marido, Henry, acaba de comprar uma fazenda de algodão no Sul dos Estados Unidos, Laura McAllan, uma típica mulher da cidade, compreende que nunca mais será feliz. Apesar disso, ela se esforça para criar as filhas num lugar inóspito, sob os olhos vigilantes e cruéis de seu sogro.
    Enquanto os McAllans lutam para fazer prosperar uma terra infértil, dois bravos e condecorados soldados retornam do front e alteram para sempre a dinâmica não só da fazenda, mas da própria cidade. Jamie, o jovem e sedutor irmão de Henry, faz Laura de repente renascer para a vida, enquanto Ronsel, filho dos arrendatários negros que trabalham para Henry, demonstra uma altivez que não será aceita facilmente pelos brancos da região.
     De fato, quando os jovens ex-combatentes se tornam amigos, sua improvável relação desperta sentimentos violentos nos habitantes e uma nova e impiedosa batalha tem início na vida de todos.
     Alternando a narrativa entre vários pontos de vista, este premiado romance oferece ao leitor diferentes versões dos acontecimentos. Os personagens, lutando por sentimentos de amor e honra num lugar e época brutais, se veem dentro de uma tragédia de enormes proporções e encontram redenção onde menos esperam.

Resenha:

     Sabe aquele livro que todos deveriam ler? Então, esse é um deles. Conheci em um clube do livro aqui no Rio e o debate foi muito denso, com momentos de um completo silêncio para meditar sobre tudo que estava sendo exposto, o que comprova o quanto esse tema (racismo) ainda é muito forte. 
     Ao ler sobre a sinopse e o assunto abordado e ainda mais tendo como pano de fundo um período histórico tão marcante não teve como não furar a fila da minha leitura. O livro trás uma leitura fluida como a escrita de Hillary Jordan que realizei em 3 noites (rapidinho).
    Aproveito aqui para deixar o registro do meu imenso agradecimento a Anastácia Cabo, do blog Notas Literárias que foi quem me apresentou e me emprestou seu exemplar.
     Mas vamos ao que realmente interessa...
   Moudbound tem narrativa em primeira pessoa e sob o ponto de vista de vários dos personagens, senti falta do ponto de vista do Pappy mas nada que interferisse na história, só creio que ficaria muito mais polêmico e rico. 
       A história começa narrando a dificuldade de enterrar Pappy, tudo por conta do clima bastante chuvoso da região da fazenda comprada por Henry que se muda com a mulher, Laura e suas duas filhas. Depois a história volta um pouco no tempo, para explicar como tudo começou.
     Laura, uma professora solteirona conhece Henry e se casa com ele, afinal ela já nem mais esperava conseguir formar uma família. A união não é por amor, pelo menos não aquele amor que estamos acostumados a ler nos romances mas o amor entre eles é mais baseado no respeito e na educação familiar do que  nos roupantes emocionais. 
     Henry é um engenheiro, que lutou na 1ª Guerra Mundial mas que foi dispensado por conta de um ferimento de guerra que o tornou levemente manco. Seu sonho é ter uma fazenda e assim que tem condições consegue realiza-lo. As dificuldades aparecem antes mesmo de se instalarem pois, ao chegar ao vilarejo de Marietta, Henry que é um homem que acredita na palavra dada, se vê diante da impossibilidade de abrigar a família em uma casa próximo à fazenda por ter feito um contrato "de boca" e descobre que foi enganado. Assim ele parte com a mulher, filhas e o pai para morar nas decrépitas instalações da casa principal.
     Jaime, irmão caçula de Henry, volta da 2ª Guerra Mundial como um herói ele está traumatizado com tantas mortes que causou. Jaime é quem trás luz e cor a fazenda e a família mas também problemas pois logo se mostra um alcoólatra.
     Ronsel é o personagem mais marcante. Negro, sargento do exército, piloto de tanque e que fez parte do grupo Panteras Negras (o que é levemente informado na narrativa) também tem seus traumas mas sua maior dificuldade é se reacostumar com tantas limitações no convívio social, só por conta da cor de sua pele.

"Crioulo, macaco, tição. Tanto tempo defendendo meu país lá fora e, ao voltar, a primeira coisa que vejo é que ele não mudou nada. Os negros ainda são obrigados a se sentar nos bancos traseiros dos ônibus, ainda são proibidos de usar a porta da frente das lojas, ainda colhem o algodão dos brancos e ainda pedem licença a esses mesmos brancos para tudo."


     Tem também Hap e Florence, pais de Ronsel. Outros personagens bastante fortes na história. Porém eles são mais passíveis em relação a todas as injustiças e humilhações que sofrem por conta de sua cor de pele.
     O final da história me foi surpreendente e perfeitamente de acordo com tudo que a autora escreveu desde o início.
     Ahh! O livro teve uma adaptação ao cinema e que foi lançado agora em fevereiro (ainda está em cartaz em alguns lugares) e está concorrendo ao Oscar nas categorias: fotografia, melhor atriz (Mary J. Blige -Florence), roteiro adaptado e melhor canção.
     Não irei me ater a maiores detalhes, pois essa é uma leitura densa e reflexiva que não se deve deixar passar.


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