Stephen
King é um escritor em tempo integral, roteirista quando lhe dá vontade, leitor insaciável
e um crítico tão duro quanto os que o fazem sofrer toda vez que lança algo
mediano - ocupações que fazem dele o autor que mais me fascina atualmente.
Apesar de ser “apenas” o rei do terror, o horripilante romancista também tem
vários trabalhos na área da ficção científica, outros muito interessantes de
não-ficção e até uma ou outra obrinha com casaizinhos fofinhos que, se eu ler
sem que saiba quem é o autor, nunca me arriscaria a dizer que é dele, além de,
cá entre nós, ter nos deixado até livros ruins também.
Mas
o assunto hoje não é a ficção, que o tornou mundialmente conhecido, e sim Sobre a Escrita: A arte em Memórias, um
livro de não-ficção que mescla autobiografia com, digamos, algumas dicas
apresentadas de maneira bem divertida sobre o que um escritor iniciante pode e
não pode fazer para que seu trabalho siga em frente.
Sinopse
Contando
desde quando se tornou conhecido por escrever livretinhos na escola com
histórias nada exemplares e por isso ter recebido críticas mais que letais da
direção da escola, também sobre os romances inteiros que escreveu sob efeito de
álcool e cocaína, também como se limpou completamente e tocou a sua vida com
lucidez, King introduz elementos simples e mais complexos acerca de como se
escrever um texto em que o leitor dê suspiros, risadas, receba sustos e derrame
lágrimas.
O
escritor estadunidense parte da definição do que é escrita: para ele, é nada
mais nada menos do que telepatia,
pois não dá para saber de onde vem e como se materializa os fluxos de
pensamento de quem escreve. Além disso, existe uma ressalva: não é possível
você aprender a ser o melhor escritor, mas, se escreve mal, é possível aprender
a escrever; caso escreva medianamente, é possível, com dedicação, aprender a
escrever bem; se você escreve bem, é possível, também com dedicação, aprender a
escrever com excelência.
Uma
das dicas mais importantes é a criação de uma caixa de ferramentas igual à de um relojoeiro, um compartimento
cultural com itens diversificados como um vocabulário bacana, filmes, livros
– ah, livros! Especialmente livros –,
séries e o consumo diário de fontes culturais que te interessem. Além disso,
sem a disciplina de escrever, não dá para aprender a escrever. Ler e observar é
indispensável, mas escrever é essencial.
O
que ficou do que passou
King
ensina por meio de histórias, o que é muito atrativo para o jeito como
apreendemos o mundo. Nossa válvula de absorção de conhecimento engrena melhor
com narrativas. É uma maneira leve de se passar alguma mensagem, um tipo de
transmissão de ensinamentos que vem passando e passando desde nossos
ancestrais.
A
liberdade criativa de Stephen King, dentro de um livro que uma pessoa lê para
ter mais base pra escrita, faz com que este seja a melhor leitura quando o
assunto é se aprofundar nos mecanismos de escrita de ficção e de outros textos.
Os capítulos fluem como se estivéssemos em uma conversa agradável sobre temas
ácidos e intrigantes com... o rei do terror!: um velho que escreveu um livro
sobre a arte de escrever pouco antes e até depois do acidente que quase tirou a
sua vida (não conto mais nada, se você quiser saber mais, leia o livro! Haha)
A gente chega em Sobre a escrita para avaliar a própria escrita e tentar
melhorá-la, mas, durante a leitura, a ideia muda um pouco e King vira um personagem de King! Sim, a
história dele nos pega de surpresa e, de repente, é sobre ela que queremos ler.
Você vai descobrir que um escritor e leitor de décadas e mais décadas de
experiência e sucesso não passa de mais um humano, como nós mesmos, que teve
que lidar com muita produção ruim até que se sentisse um pouquinho só
satisfeito consigo mesmo.
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