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domingo, 25 de novembro de 2018

Saco de Ossos (Stephen King)






Não passou nem um mês e fui obrigado por uma ânsia literária - muito forte em mim hoje em dia - a ler mais um livro do mestre, do deus, do dono do terror na Terra. Em 1998, Stephen King lançou Saco de Ossos, um terror psicológico dos mais profundos que existem. A obra, com seu mergulho abissal no amor humano, cala a boca de qualquer um que acuse um dos escritores mais prolíficos da humanidade de ser superficial.

Sinopse de Saco de Ossos

Quando começou a escrever e a ganhar notoriedade por suas publicações, Mike Noonan nem sequer sabia o que era o bloqueio criativo. Com quarenta anos, porém, o escritor não consegue se libertar da dor de perder a companheira e, há pelo menos quatro anos, não registrou sequer uma linha.
O lento processo de entrada num estado paralisante de ressaca literária só não foi pior pela fortuna que Noonan acumulou com os livros que já havia publicado. É essa grana que o sustenta desde então. As únicas palavras com as quais se defronta são as dos caças-palavras dos jornais.
Em determinado momento, ele decide que confrontar seus problemas é melhor do que se esconder deles. Movido pelo súbito esforço de superá-los, se muda para a TR-40, uma zona minúscula onde possui uma enorme casa de campo, a Sara Laughts, que dividia com a sua falecida esposa e onde escreveu mais febrilmente.
Sem Johanne, a casa parece muito quieta, solitária e... assustadora, o que torna ainda mais difícil a superação das vozes em sua mente e do atrofiamento mental provocado por sua solidão, pela falta de trabalho e pelas memórias dos dias agradáveis ao lado da amada. King, então, põe Noonan para brigar diretamente com seus próprios delírios, numa luta incessante para vencê-los e deixá-los para o passado.
Mas é quando conhece Mattie que ele consegue, enfim, depois de quatro anos deixando a sua vida para depois, encontrar uma missão para se dedicar.
Devore, um milionário dos sistemas computacionais de 84 anos, quer a custódia da filha de Mattie, que era esposa do seu falecido filho. Para conseguir pôr as garras em sua neta, o velho nerd ousado pode usar qualquer artifício, desde os meios legais até o seu imenso poder caudilhista no território da TR-40. Por um acaso extremamente feliz para Mattie (uma mãe solteira que vive em um trailer), Noonan se depara com o caso e resolve ajudar a mãe e confrontar a ganância de Devore.

O que ficou do que passou

O resultado do livro é um esforço híper bem recompensado para um escritor que se propôs a escrever uma história muito comprida e profunda. King se aprofundou principalmente nos aspectos jurídicos, essenciais para resolverem o caso da disputa de custódia entre Devore e Mattie. Os diálogos e cenas entre os advogados de ambos os lados da disputa passam a impressão de que o escritor teve consulta de juristas para conseguir verossimilhança. E conseguiu. Conseguiu sem sombra nenhuma de chatice, pois as cenas são super agradáveis de se ler e rechaçam qualquer sinal de chatice.
A ambientação psicológica não nos dá trégua no desenvolver da história. Os aspectos da solidão de Noonan e da necessidade de superar a morte da esposa, junto com a sua decisão de enfrentar os seus demônios indo morar em Sara Laghts, só fazem com que o leitor se sinta parte da história.
Em seu livro Sobre a escrita: a arte em memórias, King diz que as histórias partem de um “e se?”. Bukowsky, ao criar o protagonista de quase todas as suas histórias, partiu de um “e se?”. Chinasky é um velho Buk sem a sorte de ter se dado bem com editoras - é um bêbado decadente que, surpreendentemente, escreve uns contos legais que ninguém conhece.
Stephen King não faz outra coisa em Saco de Ossos senão pensar em outro “e se?”. E se a sua esposa Mattie, tão essencial em sua carreira de escritor, morresse com seu primeiro filho ou filha no ventre e ele tivesse que tocar a carreira sozinho e com uma solidão tão massacrante? O íntimo de King se inscreve nas páginas do romance.
Um pequeno detalhe meio ingênuo em toda essa bagunça melancólica é o de que Noonan parece um herói. Ele é o homem que assumiu o seu fascínio pela jovem leitora Mattie e sua filhinha inocente Kyra contra tudo o que os foxicos do povoado lhe recomendava, e cabe a Noonan o destino das mocinhas Mattie e Kyra.
Essas e outras reflexões, que não tem o objetivo de acalentar a nossa alma e sim estimulá-la a pensar em outras possíveis realidades em nossa própria vida, faz de Saco de Ossos uma das obras-primas de Stephen King. Aliás, a obra do mestre que mais me agradou até aqui. Portanto, você aí, pode apostar na leitura desse livrão (em tamanho e em qualidade) que não vai se arrepender.


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