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domingo, 7 de outubro de 2018

Vagabundos Iluminados (Jack Kerouac)



Jack Kerouac foi um dos maiores escritores beats, talvez o mais famoso. O trabalho que vem à mente da maioria das pessoas, e da minha também, quando alguém pergunta sobre Kerouac é On the Road - porém, os fãs mais radicais dizem que Os Vagabundos Iluminados é o romance mais bem-feito.
Para falar a verdade, são histórias com espíritos tão parecidos que um/a leitor/a desatento/a pode pensar até que está lendo o mesmo livro. Mas existem diferenças claras e é basicamente disso que se trata esta resenha. Comecemos por admitir que a afinidade mais clara é o empolgante e poético zen-budismo que norteia a vagabundagem das tramas.
Sinopse
Ray Smith, o narrador-personagem, é um escritor relativamente iniciante que está sempre disposto a fazer tudo - escrever, pensar, viajar - guiado um fluxo de pensamento febril, quase delirante. O zen-budismo é a sua filosofia de vida, mas, como não existe uma doutrina que estipula o que um zen pode ou não pode ou deve fazer, ele vive com imensa liberdade, tentando aprender com cada uma das suas experiências incertas.
A referência espiritual de Ray é o Japhy, outro zen-budista com personalidade própria e sem a mesma pureza celibatária do protagonista. Japhy não tem um código de moralidade quase cristão, pelo contrário, ele vive para curtir e gastar toda a sua energia inesgotável trabalhando como lenhador e se enchendo de bebida nas festas que organiza em sua casa, no meio do mato.
Ray sempre encontra boas razões para viajar. As viagens são formas de aguçar a sua espiritualidade e de sentir a vida por um fio. É um caroneiro bem ao estilo dos personagens de On the Road. Entretanto, o que busca não só Ray, como Japhy e Morley (um aventureiro atrapalhado e muito engraçado, nas cenas hilariantes em que aparece), é a razão de existir na terra. Uma busca mais espiritual do que em On the Road. São personagens mais calmos, que vivem uma loucura lúcida à procura do resgate da espiritualidade e de um bem que não se sabe exatamente o que é – algo como a busca do vazio budista.
O que ficou do que passou
A forma de escrever tanto do Kerouac quanto de Ray é notável por causa de um fluxo de consciência genial e interminável, mas às vezes, confesso, dei uma pausa para respirar e assimilar aquelas frases gigantescas. Os diálogos são fenomenais, muito divertidos e quase inigualavelmente vívidos, traduzindo de maneira muito enérgica o que aquelas pessoas poéticas conversavam.
 Já os personagens se diferenciam de On the Road por serem menos radicais na forma de viver. Continuam verdadeiros monges budistas, porém abdicam menos das coisas materiais e vivem com normalidade em alguns aspectos. Resumindo, só o protagonista continua um vagabundo completamente iluminado e abstêmio.
Bom, sinceramente não concordo com a opinião de que este é o melhor romance de Kerouac. Talvez tecnicamente sim, mas, como não entendo disso, fico com a empolgação gigantesca proporcionada por este livro. É uma loucura sábia e intrigante. Não a maior empolgação que já tive lendo Kerouac, mas o livro com que mais aprendi. Indico fortemente a leitura deste livro: uma fluidez que não permite sombra de chatice.

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