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domingo, 23 de setembro de 2018

Carbono Alterado (Richard Morgan)





Richard Morgan é um escritor e cineasta estadunidense que se notabilizou especialmente por ser o criador de Carbono Alterado, livro de 2002 que virou série da Netflix este ano e está em evidência na ficção científica contemporânea. O que mais me impressiona é que tudo o que vou dizer a seguir foi o seu primeiro romance publicado.
Sinopse
Carbono Alterado conta a história de um mercenário alienígena (mas humano), com vários séculos de vida, que é contratado por um ricaço para solucionar o mistério do seu próprio assassinato. É que, por mais estranho que pareça, no século XXVI algumas pessoas já conseguem superar a morte.
O meio para a "reencarnação" é um sofisticado sistema que congela, em um cartucho, a consciência do indivíduo e a deixa completamente intacta, mesmo quando a pessoa está sem corpo para materializar-se. Nem todas as pessoas conseguem rapidez ou mesmo acesso ao processo, aliás, o procedimento em si é restrito a indivíduos privilegiados ou a trabalhadores (de profissões legais ou não) que exercem atividades violentas e que portanto tem mais chances de morrer.
Neste contexto, o magnata é assassinado por alguém que provavelmente não sabia que ele tinha, integralmente a seu dispor, clones perfeitamente conservados, além do costumeiro cartucho de consciência. O empresário fica furioso e disposto a descobrir o seu assassino, por isso contrata o sr. Kovacs - um investigador-mercenário que estava congelado em seu planeta de origem, o Mundo de Harlan - e lhe dá uma grande recompensa para averiguar o caso, que vai se revelar muito mais profundo que apenas o que lhe fora explicado.
A história do universo de Carbono Alterado
Toda a história se passa num futuro bem distante. Mas o fato "antigo" mais marcante historicamente para a Terra é o período das Grandes Colonizações. No século XXIII, naves foram tripuladas por colonizadores terrestres em busca do domínio de outros planetas. Assim que Marte e o Mundo de Harlam se tornaram habitáveis para os humanos.
Foi aí que muitos outros lugares foram alcançados, e atingidos, pela humanidade – a diferença na povoação humana dos vários mundos era na diversidade de etnias. Por exemplo, o Mundo de Harlan, planeta do protagonista Takeshi Kovacs, recebeu colonizadores asiáticos e escandinavos - isso explica a mistura idiomática no nome.
A terra parece ser o lar da mais alta tecnologia. Dá para perceber isso observando a forma com a qual o Kovacs se impressiona ao ser atendido pela maquinaria utilizada em serviços relativamente simples e humanos, como a venda de produtos ou a rede de hotelaria. No Mundo de Harlam - planeta com que temos mais contato do que os outros justamente por, lembrando, ser a terra de Kovacs -, por exemplo, os robôs são utilizados em poucos serviços e o estágio tecnológico está próximo ao da época das grandes civilizações, há pouco mais de duzentos anos: altíssimo automatismo e desenvolvimento para os transportes, no entanto, em comparação com a Terra, rústica no setor de serviços e da vida cotidiana.
Kovacs vai percebendo isso em meio a uma sociedade que vive para consumir vorazmente, em todos os aspectos da vida, e que adapta a evolução da sua tecnologia e dos seus costumes de vida para a sociedade de mercado. É como se ele tivesse sido jogado em um mundo que potencializa qualquer pequeno luxo que havia em sua terra de origem, e a selvageria capitalista que encontra naquele local o impressionada a cada ato. A encarnação mais perfeita do consumismo irrefreável que caracteriza a Terra é a família do magnata contratante, extremamente rica e poderosa politicamente.
O que ficou do que passou
A escrita de Richard Morgan me chamou muito a atenção por ter bastante precisão na escolha das palavras e ao mesmo tempo algo de muito atual, que a deixa bastante atraente. Porém, algumas descrições me pareceram confusas, talvez pela imensa profusão de detalhes e um certo desfoque sobre o que é essencial à cena. Isso deixa a experiência de leitura um pouco arrastada e embaralhada; a leitura não avança com tanta fluidez nem em provocar empolgação nem no sentido da compreensão.
Reconheço que a história é muito complexa e talvez não haja outra saída senão escrever detalhadamente cada cena, pois os desfechos, meio complicados, precisam ter uma explicação bem embasada. O que fica de verdadeiramente interessante são algumas cenas de ação (e até de sexo) muito, mas muito bem escritas mesmo, e uma crítica muito legal à sociedade de consumo.

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